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ENTREVISTA ESPECIAL – Júlian Marcelino Araújo

Nem todo advogado é doutor, mas esta é, aos 27 anos

A Ju, como é mais conhecida, também é nossa colunista aqui no Portal LS. Ela é a Ju da dupla que faz com a mãe Jana, na coluna Sul em Trilhas /author/ju-ana/. Além de amar viajar e estar em contato com a natureza, esta garota é uma joia do direito na região. Acompanhe nosso bate-papo e conheça mais da Dra. Júlian.

Karem Suyan – Onde e quando nasceu?

Dra. Júlian – Nasci em Armazém, Santa Catarina, no dia 12 de julho de 1997. Em moro em Tubarão há mais de 16 anos.

Karem Suyan – O que a levou cursar Direito?

Dra. Júlian – Sempre tive um forte senso de justiça e uma vontade genuína de contribuir para a sociedade, promovendo o o ao Direito de forma estratégica. A advocacia me permitiu atuar diretamente ao lado das pessoas, ajudando-as a garantir seus direitos. Nunca me vi no papel de julgar, mas sim no de construir caminhos e soluções para aqueles que precisam de defesa.

Karem Suyan – A pesquisa acadêmica foi um ponto de mutação em sua carreira?

Dra. Júlian – Sem dúvida. No final da graduação, comecei a me interessar pelo campo da pesquisa científica, algo que, até então, não fazia parte da minha realidade. Foi durante o início do mestrado na UNESC, em 2019, que realmente compreendi a profundidade da pesquisa e o quanto ela pode impactar políticas públicas e transformações sociais. Esse universo acadêmico se abriu para mim gradualmente, e hoje vejo a pesquisa como um complemento essencial à minha atuação na advocacia.

Karem Suyan – O que a levou ao doutorado?

Dra. Júlian – Meu ingresso na carreira acadêmica começou pelo desejo de dar aulas e fortalecer minha atuação como advogada. No entanto, ao longo do mestrado, percebi que a pesquisa científica é muito mais do que um meio para lecionar – ela representa uma forma de construir conhecimento novo e relevante.

Fiz minha dissertação de mestrado na UNESC, em Criciúma, e antes mesmo de finalizá-lo, ei no processo seletivo para o Doutorado em Direito na UNISC, na linha de pesquisa em Políticas Públicas. A UNISC fica em Santa Cruz do Sul, no Rio Grande do Sul, e precisei optar por essa instituição porque há poucos programas de doutorado em Direito em Santa Catarina. Na região, as opções são muito limitadas, com apenas a UFSC e outros programas mais distantes, o que tornou a UNISC a melhor alternativa.

Karem Suyan – Como foi a nova realidade de vida pessoal/profissional e estudos?

Dra. Júlian – Foi um desafio grande conciliar o doutorado com a advocacia, especialmente pelo deslocamento e pelo nível de exigência do curso. Mas a disciplina, a organização e a persistência foram fundamentais para concluir essa etapa. Finalizei meu doutorado em 2024, um feito que exige dedicação e muita resiliência.

Karem Suyan – Qual foi a parte mais difícil deste desafio?

Dra. Júlian – O doutorado foi, sem dúvida, um dos desafios mais intensos da minha trajetória. A exigência acadêmica é enorme, e minha tese teve quase 300 páginas, demandando muita pesquisa, leitura e produção contínua.

O maior desafio foi manter a disciplina e a consistência, mesmo nos momentos de cansaço. Muitas vezes, precisei abrir mão de finais de semana e momentos de lazer para me dedicar à escrita e à fundamentação teórica. A pesquisa exige um embasamento sólido, o que significa ler inúmeros artigos, dissertações e teses para sustentar uma contribuição inédita.

Karem Suyan – O que muda sendo uma doutora “de verdade”?

Dra. Júlian – Ser doutora de verdade não é apenas um título, mas sim a consolidação de uma formação aprofundada, que traz qualificação, preparo e um impacto real para a sociedade. A tese que desenvolvi tem potencial para influenciar debates sobre políticas públicas e novas regulamentações jurídicas.

Além disso, o doutorado amplia minhas possibilidades profissionais, seja para continuar na advocacia com uma visão ainda mais estratégica, seja para atuar na docência e pesquisa. Também abre portas para um possível pós-doutorado no futuro.

No entanto, é importante reconhecer que, no Brasil, a educação acadêmica ainda é desvalorizada. Mesmo com uma formação longa e exigente, os profissionais da pesquisa muitas vezes não recebem o reconhecimento merecido.

Karem Suyan – Fale um pouco sobre a tese que defendeste.

Dra. Júlian – Minha tese aborda as novas formas de trabalho, com foco no trabalho plataformizado, ou seja, aquele realizado por meio de aplicativos, como motoristas de transporte e entregadores. O problema central é a falta de regulamentação específica, o que gera desafios tanto para os trabalhadores quanto para o sistema jurídico.

O estudo analisa essa realidade dentro do contexto das políticas públicas, propondo reflexões e soluções que possam contribuir para um modelo mais justo e equilibrado.

Karem Suyan – E agora, quais os planos?

Dra. Júlian – Agora, meu foco é consolidar minha atuação na advocacia, onde já estou há quase 7 anos. Meu escritório demanda bastante dedicação, e, depois de concluir o doutorado tão jovem, também quero priorizar meu bem-estar e saúde mental.

Já tive experiências como professora universitária e, futuramente, pretendo me aprofundar ainda mais na pesquisa e na docência. No momento, quero dar um tempo para reequilibrar as energias e, depois, avaliar novos projetos acadêmicos e profissionais.

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