Audiência pública em Criciúma debate violência, saúde mental e cyberbullying nas Escolas
A audiência pública foi marcada pela participação da comunidade e reforçou a necessidade de união entre pais, educadores, poder público e sociedade civil para garantir que as escolas sejam, de fato, ambientes seguros, acolhedores e saudáveis para o desenvolvimento de crianças e adolescentes.
Preocupações com saúde mental, bullying, violência e crimes virtuais dentro das escolas mobilizaram a comunidade de Criciúma na noite desta quarta-feira (21). Em uma audiência pública realizada no Salão Ouro Negro da Prefeitura, pais, alunos, professores e representantes dos setores da educação e segurança pública se reuniram para debater os desafios enfrentados no ambiente escolar. A iniciativa foi proposta pela vereadora Giovana Mondardo.
A audiência buscou ouvir a comunidade e reunir sugestões que possam embasar ações e políticas públicas voltadas à melhoria do ambiente escolar, tanto no espaço físico quanto nas interações que acontecem no ambiente digital. “As mudanças desse tempo exigem que os agentes políticos também tomem ciência e reconheçam que o processo político precisa se aprofundar nesse tema, que tem atravessado a juventude e as crianças”, afirmou a vereadora Giovana.
A mesa de debate foi composta pela vereadora Giovana Mondardo, a gerente de assuntos educacionais e específicos da Secretaria Municipal de Educação, Andreia Alves, a coordenadora regional de educação da Secretaria de Estado da Educação, Ronisi Guimarães, a policial civil Isabel Cristina Feijó, o superintendente da Juventude de Criciúma, Vitor Teixeira, e o advogado Luiz Fernando Veran Alberton, representante da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) Criciúma.
Segundo a vereadora, os índices são alarmantes. “A OAB de Santa Catarina fez uma pesquisa que apontou que 82% dos alunos convivem com bullying e grande parte já foi ou ainda é vítima de agressão. Também vale ressaltar que 23% dos adolescentes afirmaram ter sido ofendidos ou humilhados por colegas somente pela aparência”, destacou a parlamentar, ao ressaltar que a violência nas redes sociais muitas vezes se apresenta de forma velada, tornando ainda mais difícil a prevenção e o combate.
A coordenadora regional de educação, Ronisi Guimarães, compartilhou uma experiência pessoal que a fez refletir sobre a dependência das telas. “Durante uma reunião, fizemos o exercício de deixar o celular em uma caixa, como os alunos fazem. Os primeiros 30 minutos foram aterrorizantes para mim. O celular se tornou uma extensão do nosso corpo. Agora imagine as crianças de 4 a 6 anos, além dos adolescentes. É urgente aprofundar essa discussão nas escolas, porque elas estão se desenvolvendo numa era totalmente diferente, com hábitos que impactam o cognitivo e o emocional”, disse.
Ronisi também chamou atenção para a importância da maturidade emocional antes do o ir às telas. “Não é toda idade que o estudante pode ter o. Precisamos falar sobre educação digital e emocional, estabelecer regras claras de convivência e deixar claro que há punições para crimes na internet, assim como no mundo físico. E, acima de tudo, precisamos garantir canais de denúncia seguros para que os jovens saibam que estão protegidos.”
A policial civil Isabel Cristina Feijó reforçou o papel da escola como espaço de proteção e escuta, mas alertou para a sobrecarga dos professores. “Cada vez cai mais responsabilidades sobre os professores. Agora, com a lei da escuta protegida, a escola também precisa estar preparada para acolher revelações espontâneas de crimes, principalmente os sexuais. Mas é importante lembrar que a maioria desses casos acontece dentro de casa. E quem a criança procura? O professor, que é o adulto de referência fora do lar”, afirmou. Para ela, o envolvimento das famílias é essencial. “Precisamos fazer o letramento dos pais”.
Ao fim da audiência, foram definidos e aprovados encaminhamentos para nortear políticas públicas e fortalecer a rede de proteção nas escolas:
– Criação de um fluxograma de denúncia de cyberbullying, que estabeleça de forma clara os caminhos para relatar e agir em casos de violência virtual;
– Implementação de um programa de letramento digital, voltado tanto para a comunidade escolar quanto para pais e responsáveis;
– Fortalecimento e expansão do programa “Conhecer para se Proteger”, com o aumento das campanhas de conscientização sobre bullying e cyberbullying;
– Ampliação da Lei Federal nº 13.935/2019, que determina a presença de psicólogos nas escolas públicas, para garantir acompanhamento contínuo da saúde mental dos estudantes;
– Criação do Dia Municipal de Combate ao Bullying, Cyberbullying e Violência nas Escolas, como forma de mobilizar a sociedade anualmente para o debate e a prevenção desses problemas;
– Programa de cidadania e combate a violência virtual;
– Estimular formas de lazer para a juventude;
– Lei da parentalidade positiva;
– Fortalecimento do Caps infantil.
A audiência pública foi marcada pela participação da comunidade e reforçou a necessidade de união entre pais, educadores, poder público e sociedade civil para garantir que as escolas sejam, de fato, ambientes seguros, acolhedores e saudáveis para o desenvolvimento de crianças e adolescentes.