Em tempo em que o mundo vive um fanatismo político, independente do lado ideológico que seja, com falsas promessas, acusações e tentativas, a arte tenta imitar a vida, especialmente com Bong Jon-Ho em ‘Mickey 17’. O longa-metragem utiliza de temas como o fanatismo e a descartabilidade do povo para construir uma narrativa envolvente e utópica.
Por incrível que pareça, o filme foi escanteado pela Warner Bros, mudando de data algumas vezes, e sempre caindo em meses descartáveis para uma produção que visa o Oscar e um bom desempenho de bilheteria. Ou seja, a partir do momento de fala do longa, o estúdio que o distribui internacionalmente acabou caindo no conto da descartabilidade, fazendo isso com o próprio projeto.
Mesmo assim, com percalços, não tira o mérito de uma história coerente e atual. Robert Pattinson interpreta o personagem Mickey, um homem que se envolveu com dívidas junto de seu amigo, e para fugir de ser morto, ele acaba entrando em uma ação para um outro mundo, longe da Terra. Ele acaba escolhendo ser descartável, no qual seria reimprimido várias vezes para testes, mortes sufocantes, rápidas e de inutilização. No caso, ele seria útil e se sentiria assim, mas inútil aos olhos de cientistas e líderes.
Um roteiro bem escrito, trazendo a dura realidade do mundo que acaba ficando cego por líderes políticos que prometem e prometem, mas no final, não cumprem, ‘Mickey 17’ explora lados utópicos de um sistema de sociedade bem respeitado. Ou, melhor, de um líder político fanfarrão bem cultuado, respeitado, e que usa suas “ovelhas” como degrau para conquistas pessoais. É um papel diferente na carreira de Mark Ruffalo, e ainda, muito irritante.
O texto do filme é inteligente ao trabalhar dois polos: a política externa usada em prol de avanço científico e dominância humana, e a “reciclagem” de pessoas que não valem nada e estão à deriva da sociedade. Mickey consegue ser um personagem tão interessante quanto a proposta do longa, que aborda muito bem como é ser esquecido e só lembrado na hora mais precisa.
Dado o bom roteiro, o elenco é ainda melhor. Pattinson tem um de seus melhores papéis na carreira, assim como Ruffalo ao interpretar um político burro e idiota. Eles são acompanhas pelas boas atuações de Naomi Ackie e Toni Collette.
O grande problema de ‘Mickey 17’ se dá em seu terceiro ato, que acaba por apressar a conclusão. Não que não seja uma conclusão boa, mas um tanto acelerada. É perceptível que o filme foi mais comercial do que artístico e, talvez, tivesse mais tempo de execução para lapidar sequências que acabam destoando nas mudanças de um ato para o outro. Embora tenha um problema, há um trabalho excelente de montagem, efeitos especiais e performance de elenco.
Por fim, ‘Mickey 17’ consegue explorar certos lados políticos norte-americanos, mas que serve como uma crítica construtiva para o fanatismo político ao redor do mundo. Caberia mais e mais críticas ao conservadorismo que tenta ser progressista, mas o diretor leva com sutileza tecer comentários mais fervorosos contra a política americana.
Nota: 8
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