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O componente emocional nas “Fake News”

Competências que devemos desenvolver para não cair em armadilhas (como a taxação do pix)

Imagens: Divulgação
O conteúdo desta postagem é uma opinião pessoal e inteiramente de responsabilidade de seu autor, que por ser colunista, não necessariamente reflete a opinião de nosso veículo de imprensa.

 

Uma pesquisa feita pelo Poynter Institute, em parceria com o Google, revelou que 43% dos brasileiros já compartilharam “Fake News”. Mas, afinal, como fugir desse mal que traz tantas perdas para a nossa sociedade? Este tema, que abrange muitas áreas do nosso cotidiano, parece se agravar com o ar das décadas e, por vezes, mostra não haver solução. Se desconsiderarmos os sujeitos que compartilham com a má intenção de influenciar pessoas, difamar marcas ou até prejudicar outros indivíduos, podemos focar na solução para outra parcela da população: aquela que compartilha despretensiosamente, sem entender necessariamente a intenção ou o perigo do impulsionamento de informações falsas.

Logo, em meio à minha pesquisa para a coluna, a internet foi bombardeada por diversas notícias falsas sobre a manutenção das contas digitais. O assunto será explorado aqui como exemplo com cunho educativo. Outro exemplo recente de problema causado pela proliferação de informações falsas foi a diminuição na adesão às campanhas de vacinação nos anos seguintes à pandemia de COVID-19. Foram necessários novos investimentos em campanhas de conscientização, pois a queda na adesão não se limitou apenas à vacina contra a COVID-19.

Um ponto menos debatido, mas também importante, é o impacto financeiro gerado por esse fenômeno. Doenças que poderiam ser prevenidas acabam gerando mais custos com tratamento do que com a aplicação da vacina. Isso resulta em uma perda financeira dobrada: custos com o tratamento de doenças evitáveis e custos para financiar novas campanhas de conscientização. E, é claro, o mais importante: devido ao desencorajamento da vacinação, famílias sofrem perdas desnecessárias, enfrentando dores que poderiam ser evitadas.

A solução para diminuir e até extinguir a receptividade dessa parcela da população, vítima das “Fake News” que acredita e compartilha informações sem saber que são falsas, segundo Ana Carolina Zuanazzi, gerente de projetos no Instituto Ayrton Senna, em entrevista para o podcast Educação tem Ciência, seria estimular e construir o pensamento crítico.

Mas, afinal, como construir o pensamento crítico? Por diversas vezes mencionei em minhas colunas o pensamento crítico como solução para diversos problemas e continuo acreditando nessa prerrogativa. Contudo, falhei em explicar como construir essa base para desenvolver um pensamento crítico sólido. Por isso, trago a perspectiva de Ana Carolina, que dividiu a formação desse pilar tão importante em três etapas. Quando concluídas, chegamos ao que idealizo como “pensamento crítico”.

O pensamento crítico, no conceito trazido por Ana no podcast citado acima, é híbrido, composto por três competências: cognitivas, metacognitivas e socioemocionais.

As competências cognitivas dizem respeito ao conhecimento que temos sobre o assunto. Ou seja, para julgar um tema, é necessário entendê-lo minimamente. Por exemplo, no caso da vacina, foi propagado que ela alterava o DNA. Para avaliar essa afirmação, precisaríamos buscar competências cognitivas que nos permitissem entender sua plausibilidade. Pode parecer óbvio para muitos que uma vacina não altera o DNA, mas o tema ganhou grandes proporções. Esse tipo de conhecimento é mais ível a um público com trajetória educacional qualificada, mas nem sempre está disponível a todos. Portanto, essa competência envolve tanto o conteúdo que o indivíduo possui quanto sua habilidade de buscar novas informações.

O segundo ponto são as competências metacognitivas, que se referem à avaliação do nosso próprio processo de investigação: como e onde buscamos informações. A metacognição regula a cognição, permitindo que “pensemos sobre o nosso pensamento”. Nesse estágio, refletimos se nossas fontes são confiáveis e se temos conhecimento suficiente ou precisamos aprofundá-lo.

Por fim, as competências socioemocionais buscam compreender quais emoções as informações despertam em nós. Neste aspecto, entra o componente psicológico – aqui, com a minha interpretação. Muitas vezes, o indivíduo já suspeita que a informação seja falsa, mas ela reforça uma emoção, seja o narcisismo de estar certo ou o desejo de humilhar um “inimigo”. Esse componente emocional é intencionalmente explorado pelos criadores de informações falsas. Quando mal regulado, ele tende a sobrepor as outras competências, dificultando a rejeição às notícias falsas.

Compreendendo essas três instâncias, podemos discutir um caso recente: logo após iniciar este texto e concluir minha pesquisa, fui bombardeado no Instagram por amigos compartilhando a mais nova “Fake News” sobre a taxação do Pix. Neste caso, que possui um cunho político, surge outro tema já abordado em minhas colunas: a demagogia – o mal que engaja e vence eleições.

Indivíduos conscientes dessas três competências podem usá-las para manipular a opinião pública. Essa manipulação envolve a criação de ídolos e a repetição de narrativas, minando os sistemas cognitivo e metacognitivo. A repetição, por exemplo, valida informações falsas ao reforçar sua exposição. Quando as duas primeiras instâncias não são comprometidas, recorre-se ao aspecto emocional, utilizando a demagogia e o sentimentalismo para engajar o público.

Como divulgador científico, acredito que um dos maiores problemas é politizar questões de saúde pública. Usar o exemplo da vacinação é pertinente porque, durante a pandemia de COVID-19, vacinar-se tornou um tema político, algo que jamais deveria ser itido.

É difícil orientar as pessoas a verificarem informações quando o sentimentalismo e a demagogia estão em jogo, mas é essencial investir no desenvolvimento do pensamento crítico. Sem ele, não há como realizar uma checagem eficaz dos fatos. É importante lembrar que essa responsabilidade não recai apenas sobre escolas e professores. O uso responsável das plataformas é uma obrigação tanto dos indivíduos quanto das empresas que as gerenciam.

Fico feliz por ter você comigo até o final deste texto. Quero reforçar a importância de desenvolver o pensamento crítico, algo que trabalho junto aos interessados em meu Instagram, @oluizgustavopereira. Como acadêmico de psicologia, não poderia deixar de destacar a relevância do acompanhamento psicológico para trabalhar a instância socioemocional do pensamento crítico, fundamental para todos os indivíduos.

 

Autor: https://linktr.ee/GustavoKabelo

 

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