Notícias de Criciúma e Região

Pesca com auxílio dos botos completa sete anos como Patrimônio Cultural de SC

A atividade se destaca pela colaboração única entre pescadores e botos, que juntos conduzem os cardumes até as redes.

Nesta segunda-feira (9), Laguna comemora sete anos em que a Pesca com Auxílio dos Botos é reconhecida como um bem imaterial e recebeu o título de Patrimônio Cultural de Santa Catarina, após um processo submetido para reconhecimento desta manifestação cultural, através do Decreto nº2504, de 29 de setembro de 2004.

A prática da pesca cooperativa foi reconhecida como Patrimônio Cultural Imaterial de Santa Catarina, através da Fundação Catarinense de Cultura (FCC) com registro no Livro de Registro dos Saberes, que reúne bens culturais de natureza imaterial.

Embora o boto já fosse considerado patrimônio natural de Laguna pela Lei Municipal nº 521/1997, essa nova chancela estadual reconhece também o saber tradicional da comunidade, profundamente enraizado no cotidiano local.

A tradição que virou patrimônio cultural

A Pesca Artesanal com Auxílio de Botos, tradição secular de Laguna, é uma prática rara no mundo e representa um valioso patrimônio cultural imaterial. A atividade se destaca pela colaboração única entre pescadores e botos, que juntos conduzem os cardumes até as redes.

Transmissão oral, respeito à natureza e organização comunitária são marcas dessa prática. Cada boto é reconhecido por seus traços e habilidades, recebendo até apelidos usados por gerações de pescadores. Essa relação de parceria é marcada pela troca simbiótica: o boto ajuda na captura dos peixes e recebe sua parte.

Os pescadores de áreas como a praia da Tesoura e o Molhe da Barra seguem rituais rígidos que envolvem preparação, paciência e observação dos sinais dos botos para o momento exato do lançamento das tarrafas. A “vaga” — sistema tradicional de organização do espaço de pesca — garante ordem e respeito entre os pescadores, especialmente em tempos de menor abundância de peixe.

Além do aspecto simbólico e ecológico, a prática também movimenta a economia local. Durante os meses da pesca, as praias se transformam em mercados espontâneos onde o pescado é comercializado diretamente pelos pescadores.

Pesquisadores já observavam a atividade desde o início do século XX, destacando a colaboração entre homem e boto como um espetáculo natural. O boto, além de parceiro, é visto quase como membro da comunidade, gerando laços afetivos e sociais com os pescadores.

Essa manifestação cultural é sustentada por saberes transmitidos oralmente e moldados pela experiência cotidiana, que reforçam a identidade de um grupo social ligado historicamente ao mar. A pesca com botos é mais do que uma técnica: é expressão de uma cultura viva, que une tradição, conhecimento popular e sobrevivência.

Você também pode gostar