Recentemente, o South Summit Brazil reuniu em Porto Alegre (RS) entusiastas do mundo dos negócios para discutir pautas emergentes e gerar conexões com propósitos. Durante um dos painéis, “From Wellness to Results: Building resilient and high-performing teams”, um dado alarmante veio à tona: segundo o Instituto Gallup, mais de 70% dos profissionais estão desengajados com suas funções, enquanto que um outro recente relatório, dessa vez disponibilizado pelo INSS, aponta que o índice de desengajamento é maior do que o sentimento de quem está desempregado. De fato esse cenário é verdadeiramente assustador. Mas por que isso acontece? Quanto custa o silêncio das equipes nas organizações?
Ainda de acordo com o Instituto Gallup (2023), apenas 23% dos trabalhadores no mundo estão engajados com o seu trabalho. Isso significa que existe uma lacuna crítica na produtividade e bem-estar organizacional composta por 77% dos funcionários. Entretanto, além do desengajamento afetar a motivação individual, tem um custo financeiro elevado, sendo responsável por uma perda global estimada de US$ 8,9 trilhões, cerca de 9% do PIB mundial.
A complexidade do desengajamento é, contudo, uma responsabilidade compartilhada. Por isso a reflexão aqui proposta não tem a intenção de provocar a sensação de culpa da liderança ou dos liderados, mas sim, um convite para a reflexão de como as relações são construídas nas organizações para que o senso de pertencimento e responsabilidade sejam mútuos.
Já há muito tempo, principalmente no cenário atual das organizações, o pensamento de que “Já fiz a minha parte, cumprindo o meu horário de chega e saída” ou então “Já pago o salário para entregar o resultado, não há necessidade de desenvolvimento” não cabe para os resultados estratégicos permeados de propósitos. Contudo, o que muitas vezes não é abordado, e que devemos refletir, é o custo do silêncio.
Quando os colaboradores se sentem desconectados ou desengajados, eles tendem a “engolir suas palavras”, ou seja, evitam expor opiniões, s ou até mesmo apontar erros que poderiam ser oportunidades de aprendizagem. Esse comportamento cria um ciclo vicioso em que as equipes se isolam, e o fluxo de conhecimento é interrompido. A cultura do medo, por sua vez, faz com que os colaboradores priorizem a autoproteção em vez de buscar soluções criativas.
E é aqui que a cultura organizacional entra em cena em mais uma edição desta coluna quinzenal, para mostrar que ela é um dos mais importantes pilares da inovação e da aprendizagem. Organizações com cultura de segurança psicológica são mais bem-sucedidas porque permitem que os colaboradores compartilhem suas ideias sem medo de retaliação ou crítica destrutiva, como bem aponta a Dra. Edmondson em suas oportunas falas.
Quando há segurança psicológica, há também a leveza para expressar preocupações de forma construtiva. E, mais importante, os erros não são vistos como falhas, mas como oportunidades de aprendizado. Esse tipo de ambiente é propício à inovação, pois permite que a criatividade se desenvolva sem as amarras do medo.
A pergunta que surge então é: o que a sua organização está fazendo para criar um ambiente onde os colaboradores não se sintam silenciados? Criar um ambiente de segurança psicológica e construtivo é essencial para garantir que as equipes se sintam à vontade para compartilhar ideias, desafios e, mais importante, aprender com seus erros. A inovação não surge em ambientes onde os profissionais têm medo de arriscar e de se expor.
A transformação começa por olhar para o silêncio que está custando caro e entender que ele é um indicador do que está sendo deixado de lado. Escutar o que os colaboradores têm a dizer, tanto no que falam quanto no que silenciam, é o primeiro o para reverter o quadro de desengajamento e colocar a inovação em movimento.
Sobre a Colunista
Jaqueline Bitencourt Lopes é doutoranda em engenharia e gestão do conhecimento nas organizações, especialista em facilitação de segurança psicológica de times (certificação internacional) e fundadora da Firmament, empresa que impulsiona o desempenho organizacional por meio da cultura de aprendizagem, segurança psicológica e da Céoshare, uma plataforma inteligente de gestão do conhecimento.
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